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22 de ago. de 2010

Ansiedade da Vida mateus 6.24-29

24. “Não cuideis do dia de amanhã.” Não somente não vos angustieis acerca do modo de amontoar tesouros na terra, acerca do modo de crescer em propriedades terrenas: não andeis ansiosos quanto à maneira de reunir maior quantidade de mantimento do que sois capazes de consumir, ou vestuário em maior cópia do que vosso corpo possa ostentar, ou mais dinheiro do que é reclamado pelas despesas de cada dia, para os simples, razoáveis propósitos da vida; mas também não vos afadigueis pelas coisas que sejam mais inadiavelmente necessárias ao corpo. Não vos atormenteis desde já, pensando o que fareis em


época ainda distante. Talvez jamais venham semelhantes épocas; ou, vindo, talvez já não tenham interesse para vós: antes de chegarem, já tereis talvez atravessado todas as vagas e apartado àsregiões da eternidade. Todas as concepções visando a distância não pertencem a vós, que apenas sois criaturas de um dia. Que fareis, pergunto, do amanhã, mais estritamente falando? Por que estareis perplexos sem necessidade? Deus vos provê hoje do necessário ao sustento da vida que vos concedeu. Basta entregar-vos em suas mãos. Se viverdes mais um dia, Ele proverá também em vista desse novo dia.

25. Acima de tudo, não façais da preocupação do futuro um pretexto à negligência dos deveres presentes. Esta é a mais fatal maneira de “andar ansioso pelo dia de amanhã.” Quão freqüente é essa ânsia entre os homens! Muitos, quando os exortamos a que mantenham uma consciência isenta de pecado, a que se abstenham daquilo que é mau à luz de sua própria convicção, não têm escrúpulos de responder: “Como, então, podemos viver? Não devemos cuidar de nós mesmos e de nossas famílias?” Isto eles imaginam ser uma razão suficiente para que continuem em pecado público e deliberado. Dizem, e pensam talvez, que serviriam agora a Deus, desde que isto não os levasse a perder pouco a pouco o seu pão. Preparar-se-iam para a eternidade, mas temem que lhes falte o necessário à vida. Assim, servem ao demônio por uma côdea de pão; correm para o inferno por medo da miséria; arremessam para -longe suas pobres almas com receio de que possam, um ou outro dia, tropeçar no necessário a seus corpos! Não é para estranhar que os que usurpam a Deus o cuidado de os alimentar fiquem tão freqüentemente decepcionados em face das próprias coisas que eles buscavam; enquanto abrem mão do céu para assegurar a posse dos bens da terra, perdem, na verdade, um, mas não ganham o outro. O zeloso Deus, no curso sábio de sua Providência, freqüentemente permite isso. Assim aqueles que não põem seu cuidado em Deus e que, tornando-se ansiosos pelas coisas temporais, nenhuma importância dão às coisas eternas, acabam exatamente perdendo a porção que haviam escolhido. Há uma devastação bem visível em todos os seus empreendimentos; o que quer que façam não prospera, tanto que, após terem trocado a Deus pelo mundo, perdem tanto aquilo que buscavam como o que não buscavam: ficam em falta do reino de Deus e de sua justiça – e nem as outras coisas lhes são acrescentadas.

26. Ainda existe outro meio de “andar ansioso pelo dia de amanhã”, igualmente proibido nas palavras do texto. É possível andar ansioso de maneira errada, mesmo no tocante às coisas espirituais: andar tão preocupado a respeito do que pode ser adiado, a ponto de esquecer o que de nossas mãos é requerido de pronto. Como somos insensivelmente levados em tal corrente, se nos não mantemos continuamente velando em oração! Como somos facilmente levados por esse mal, como sobre uma espécie de sonhar acordado, projetando programas distantes e pintando formosas cenas em nossa imaginação! Pensamos, então, que faríamos o bem quando estivéssemos em tal lugar ou quando tal tempo viesse! Como seríamos úteis, quão fecundos em boas obras, quando mais amenas nos fossem as circunstâncias! Como intensamente serviríamos a Deus, quando de uma vez e removesse e de nosso caminho tal ou qual obstáculo! Talvez estás agora em abatimento de alma: Deus esconde sua face de ti. Vês pouco da luz de seu rosto: não podes experimentar uma afeição redentora. Em tal estado de mente, quão natural é que digas: “Como glorificarei a Deus, quando a luz de seu rosto se projetar de novo sobre minha alma! Como exortarei os outros a que o glorifiquem, logo seu amor se derrame em meu coração! Então farei grandes coisas; falarei acerca de Deus em toda parte; não me envergonharei do Evangelho de Cristo. Redimirei o tempo; usarei no máximo de todo talento que tenha recebido.” Não creias em ti. Não farás mais tarde aquilo que desde já não fazes. “O que é fiel no pouco”, de qualquer que seja sua espécie, seja de caráter mundano ou de temor e amor de Deus, “será fiel no muito”. Mas se agora enterras um talento, tu enterrarás cinco a seguir, isto é, enterrarás cinco se tantos te forem dados, mas é escassa a razão de esperar que tal aconteça. Na verdade, “àquele que tem”, isto é, que usa aquilo que tem, “será dado, e terá com abundância. Mas àquele que não tem”, isto é, que não usa a graça que recebeu, seja em grau maior ou menor, “será tirado até aquilo que parecia ter”.

27. Não cuides das tentações de amanhã. Este é também um laço perigoso. Não penses: “Quando tal tentação vier, que hei de fazer? Em que estado ficarei? Temo não possuir forças para resistir; não sou capaz de derrotar semelhante inimigo”. Em termos claros: não tens agora a força de que não necessitas de pronto. Não és capaz de derrotar neste instante aquele inimigo; e neste instante ele não te assaltará. Com a graça que agora tens, não poderias resistir às tentações que de presente não te atacam. Quando, porém, vier a tentação, virá também a graça. Nas provações maiores, maior será tua fortaleza. Quando sobram as dores, as consolações de Deus de algum modo superabundam. De modo que, em qualquer contingência, a graça de Deus te é suficiente. Ele não permite “sejas tentado” hoje “além de tuas forças”; e “em toda tentação Ele abrirá caminho à fuga”. “Como teus dias, assim tuas forças serão.”

28. “Deixa”, pois, “que cada dia cuide de si mesmo”; isto e, quando o dia de amanhã vier, pensa nele então. Vive hoje. Seja o teu cuidado mais sério a utilização da hora que passa. Esta é tua e inteiramente tua. O passado é tão vão como o pensamento de coisas que jamais tivessem existido. O futuro é nada para ti; ele não te pertence, e talvez nunca te pertencerá. Não há dependência do que ainda possa vir, porque tu “não sabes o que o dia possa trazer”. Portanto, vive hoje; não percas sequer uma hora; usa este momento, porque esta é a tua parte. “Quem conhece as coisas que foram antes dele, ou que virão depois dele debaixo do sol?” As gerações que eram desde o começo do mundo, agora onde estão elas? Passaram; tornaram-se esquecidas. Elas existiram; viveram seu dia; foram depois varridas da terra, como folhas caídas de velhas árvores: fundiram-se no pó comum! Outra e outra geração lhes sucederam; “estas seguiram os ancestrais, e jamais verão a luz”. Agora chegou tua vez na passagem sobre a terra: “Alegrate, moço, nos dias de tua juventude!” Alegra-te sem perda de tempo, alegra-te, mas regozijando-te naquele “cujos anos não minguam”. Estejam teus olhos, feitos de simplicidade, postos naquele “em quem não há variação, nem sombra de mudança”. Dá-lhe teu coração desde já; descansa nele desde logo; sê desde o presente santo como Ele é Santo! Agarra-te sem perda de tempo à oportunidade bendita de fazer sua aceitável e perfeita vontade. Regozija-te agora em “suportar a perda de todas as coisas” para que assim possas “ganhar a Cristo”. 29. Sofre hoje, com prazer, por amor de seu nome, já que Ele permite venha este dia sobre ti. Mas não atentes para os sofrimentos de amanhã. “A cada dia basta o seu próprio mal.” Mal, dizemos, usando do vocabulário preferido pelo homem: se se tratar de vergonha ou miséria, pesar ou doença. Mas, na linguagem de Deus, tudo são bênçãos: são um bálsamo precioso, preparado pela sabedoria de Deus e distribuído variavelmente entre seus filhos, segundo as diversas enfermidades de suas almas. Ele dá cada dia o suficiente para cada dia, proporcionalmente à necessidade e à força do paciente. Se, todavia, antecipas a fadiga reservada para amanhã, experimentando-a desde hoje; se adicionas isto ao que te foi dado anteriormente, acumularás uma carga que excede às tuas forças. Tal conduta vem a Ser o meio, não de curar, mas de destruir tua própria alma. Recebe, pois, exatamente aquilo que Ele hoje te concede; faze e acata hoje sua vontade! Entrega, hoje, a ti mesmo – teu corpo, alma e espírito –, a Deus, mediante Cristo Jesus, nada desejando senão que Deus seja glorificado em todo teu trabalho, em tudo que fizeres, em tudo que sofreres; nada buscando, senão conhecer a Deus e seu Filho Jesus Cristo, através o Eterno Espírito; nada ambicionando, senão amá-lo, servi-lo e gozá-lo nesta hora, e por toda a eternidade! E, a “Deus o Pai, que me criou e a todo o mundo”; a “Deus o Filho, que me redimiu e a toda a humanidade”; a “Deus o Espírito Santo, que me santifica e a todo o povo eleito de Deus”, sejam honra e louvor, majestade e domínio, pelos séculos dos séculos! Amém.

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